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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O conceito de ideologia na visão de um jovem...

O conceito de ideologia pode ser entendido em múltiplos sentidos, daí as várias interpretações positivas e negativas que foram escritas.

Há um sentido mais corriqueiro que liga ideologia a "falsa realidade" e engano. Sendo assim ela serviria para ocultar relações de dominação, subordinação, opressão. Marx, por exemplo interpretou a idéia jurídica de sujeito livre e trabalho livre como uma forma de ocultamento da realidade da opressão do trabalhador diante da desigualdade fundamental que residiria na questão da propriedade (principalmente dos meios de produção); o trabalhador não seria livre a começar por não haver garantia de igualdade de condições e oportunidade; destituídos (tendo como referência o processo de consolidação do sistema capitalista) de seus antigos vínculos societários, suas antigas relações de trabalho (nas quais possuia o domínio dos instrumentos de trabalho, assim como de seu horário de trabalho) é posto em relações fabris que disciplinam (carga horária e intensidade) o uso de sua força de trabalho.

Também se poderia incluir nessa primeira acepção a crítica de Durkheim ao senso comum e a necessidade de rompimento com ele para a formação de uma ciência. As idéias naturalizadas sobre as coisas não seriam de fato o que as coisas são, pois não se parte de uma postura investigativa, mas aquilo que se pensa que são. Sendo assim, abre-se espaço para falsas visões que contribuiriam para desigualdades e desequilibrios sociais.

Um outro sentido é o que aproxima ideologia de "projeto de sociedade". Seria um ideário colocado no plano político com fins a promover uma ação conjunta na luta contra uma situação de exploração, de desigualdade. Um projeto de sociedade, uma maneira de resolver os problemas sociais, que geralmente também está associada a legitimação de um grupo político. Mas pode ou não estar ligada instrumentalmente aos fins de um grupo político.

Um outro sentido é o de "visão de mundo", que seria um conjunto de idéias que uma pessoa elabora acerca do lugar em que vive.

Todos esses sentidos estão interligados. A ideologia pode ser positiva ou negativa, a depender do ponto de vista, mas ela é necessária e ineliminável, pois é parte do pensar sobre o mundo e formular projetos. Claro que o pensar racional e crítico, a busca de informações, o debate, deve ser mobilizado para formular uma base de crença mais consistente e evitar enganos. A ideologia no fundo é uma forma de tentar controlar o mundo a nossa volta e o futuro da nossa sociedade ou das nossas vidas, que é sempre incerto. O problema é quando a ideologia passa a se crer como o único sistema de crenças verdadeiro.

Gostaria de colocar ainda um ponto. Frisar que ideologia não está ligada necessariamente ao Estado, a presença do Estado no controle da sociedade. As ideologias circulam dentro e fora do Estado. Uma idéia desse tipo quase identifica a ideologia a um regime político mais estatal. (além do que, que nível de eficiência é esse do sistema capitalista? quando mais e mais, este é um dos sentidos da sua evolução, o homem passa a ser substituido pela máquina? e é um sistema no fundo gerido a partir da criação de desigualdade? Essa idéia é típica da acepção da ideologia como naturalização)

Uma boa leitura sobre o tema são os textos do filósofo político italiano Antonio Gramsci, que descreve bem o modo como as ideologias circulam na sociedade civil, envolvendo instituições como escolas, sindicatos, televisão, etc., que não são simplesmente aparelhos ideológicos de dominação do Estado sobre a vida dos sujeitos, mas são também espaços de luta entre visões divergentes. A sociedade civil seria um palco de lutas em prol da construção da hegemonia (convencimento, educação, inculcamento de uma ideologia) para a consolidação de um domínio político. Nesse sentido, o Estado também não seria um instrumento de dominação de classes, mas um lugar de lutas internas, de divergências.

Por fim, a ideologia é tão importante na sociedade capitalista (e creio que em qualquer sociedade) como veículo de formulação de projetos, de dominação política e também de naturalização das coisas (sendo tudo natural, não há porque exigir mudanças, acostuma-se, adapta-se a situação vigente).

Abraço

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