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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ideologia e o capitalismo como fim da história

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Apesar da história nos ensinar que o mundo está em constante transformação, há um sentimento comum, em determinados estratos sociais, de que o mundo ou sempre foi assim ou para sempre permanecerá como está, talvez com uma variação aqui ou outra acolá. Mas isso não é porque as pessoas não saibam racionalmente que isso não seja verdade.

O indivíduo hoje se assemelha àquele do período romano. Se olharmos para a História da Filosofia, veremos que na época da Roma Imperial a Filosofia Política praticamente desapareceu, enquanto que os filósofos voltavam suas reflexões principalmente para a Filosofia Moral. Isso é, o que deveria ser mudado era o indivíduo, não o mundo. Havia uma sensação de impotência diante do império da mesma forma que muitas pessoas experimentam hoje. Basta darmos uma olhada nas prateleiras de livros mais vendidos para saber o que o homem médio anda lendo: livros para mudar a si mesmo.

E mesmo observando que impérios como o romano se desintegram, algumas pessoas ainda tem a sensação de que o mundo sempre será como está. Daí a afirmação precedente de que o problema não é saber olhar para a história e ver que tudo passa. A questão é essa sensação, esse sentimento de imobilização diante do mundo.

Se analisarmos atentamente a história, veremos que antes que elementos revolucionários surjam e questionem o status quo de determinado momento histórico, o mundo vigente até então parece sempre o melhor e o mais natural dos mundos.

Vamos ilustrar isso com um exemplo. A escravidão era vigente em nosso país até pouco mais de 150 anos atrás. Sua abolição é historicamente muito recente, e essa instituição se perpetuou por milênios na humanidade.

Para o homem de hoje pode ser absurdo imaginar uma cena em que um punhado de homens brancos armados fosse de navio a outro continente arrancar outros homens livres, à força, de sua terra natal para serem escravizados longe de suas casas. Parece absurdo para nós, mas havia uma justificação para isso. Sempre houve uma justificação. E esse tipo de justificação do status quo, do mundo como ele é, é chamado de "ideologia".

A ideologia é a forma com que as classes dominantes justificam o sistema vigente e o apresentam como o melhor e o mais natural dos mundos. E da mesma forma que sempre houve justificativas para a escravidão, há hoje justificativas para o modo de produção capitalista.

Os burgueses nos pedem para olhar para o reino animal e ver como é natural a concorrência, como um animal engole o outro, como os mais aptos sobrevivem e os mais fracos são exterminados. Isso é um exemplo de ideologia. Isso é justificativa do status quo, do mundo como ele é.

Ao inverter a dialética hegeliana de cabeça para baixo, Karl Marx demonstrou que são as relações materiais e concretas da vida material que determinam a forma de pensar de uma determinada sociedade. As idéias dominantes de uma época são sempre as idéias da classe dominante daquela época.

Se a verdade é imutável, e se a escravidão algum dia foi devidamente justificada, ela ainda o seria hoje. Isso mostra que aquilo que sustentou a escravidão e que sustenta o capitalismo não são verdades "eternas". Os argumentos só servem para tentar justificar a forma como o mundo já está organizado.

Se demos apenas o exemplo da instituição da escravidão, o leitor poderá varrer a história para ver por si só que sempre foi assim. O feudalismo, na Idade Média, é um outro exemplo, o qual tinha na Igreja sua principal âncora ideológica.

A ideologia burguesa diz que o trem da história chegou a uma estação chamada "capitalismo" e que essa é a estação final. Ela quer congelar a história. Mas ao contrário do que às vezes pode sugerir este sentimento de impotência e imobilização do homem contemporâneo diante do mundo, o capitalismo definitivamente não é o fim da história - não há nada que aponte para isso. A mais irrealizável de todas as utopias é achar que nada muda.

A ideologia e a dominação capitalista

O pensador alemão Karl Marx (1818-1883) afirmou que a ideologia dominante será aquela advinda da classe que domina a sociedade, ela representará, então, as ideias, a forma de pensar e explicar o mundo provenientes desta mesma classe. Essas afirmações encontramos na obra A Ideologia Alemã escrita em 1845-1846, “As ideias (...) da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante” (MARX, 1996: 72). E essas ideias possuem a característica de aparecerem para todos como universais e racionais “(...) cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas ideias a forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente válidas” (MARX, 1996: 74).


Para Marx, na sociedade capitalista a produção de objetos é a atividade essencial, pois é com ela que a divisão em classes e a exploração do trabalho ocorrem. Essa divisão impulsiona a classe dominante em manter o controle sobre o conjunto da sociedade. Na análise que Marx realiza sobre o capitalismo, que encontramos na obra O Capital, de 1867, há uma crítica à forma como essas relações entre patrões e empregados vão ocorrendo na sociedade. 
Quando compramos alguma coisa não nos importamos em saber em quais condições de trabalho e com qual salário aquele objeto foi produzido. Por exemplo, se você está com frio e tem que comprar uma blusa, vai se preocupar com a utilidade que ela terá para você. Não se preocupará com as condições de trabalho dos operários da indústria têxtil. 
A propaganda irá atuar sobre você e o consumo ocorrerá via esta ação misteriosa e mágica que revela somente a utilidade do produto. 
Isso ocorre com qualquer objeto produzido no capitalismo, pois todos eles podem ser igualados. Veja: se as horas gastas para produzir a sua blusa forem igualadas às horas para produzir um CD, eles vão ter o mesmo preço. É por isto que muitas vezes um CD custa o mesmo que uma lata de ervilha. Quanto menos tempo leva, dentro da jornada, para produzir um objeto, mais lucro tem o capitalista, que com uma determinada produção paga os gastos que tem com o trabalhador. Essa igualdade de horas trabalhadas vai equiparar as mercadorias e na hora do consumo só vai importar o preço das coisas. Este é o caráter mágico cheio de “argúcias teológicas” que Marx está indicando no seu texto que vamos citar a seguir: 
“A primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheio de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. Como valor de uso, nada há de misterioso nela, quer a observemos sob o aspecto que se destina a satisfazer necessidades humanas, com suas propriedades, quer sob o ângulo de que só adquire essas propriedades em conseqüência do trabalho humano. É evidente que o ser humano, por sua atividade, modifica do modo que lhe é útil a forma dos elementos naturais. (...) A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como característica materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho”. (MARX, K., 1994: 82).
Nesta obra, O Capital, Marx, demonstra o Valor de todo e qualquer objeto que no capitalismo possui a forma de Mercadoria. Estes objetos vão possuir uma utilidade, que está localizada no consumo, e algo mais que está localizado na hora que a blusa, no caso do exemplo, for produzida. Analisar e desvendar o processo produtivo e a organização da sociedade foi a sua intenção.
Ao consumirmos somos influenciados pela necessidade e utilidade – básica ou supérflua – que temos de possuir determinado objeto. Em geral, não nos preocupamos em compreender o que ocorre com a realidade do trabalhador e seu modo de vida. Assim, o valor de uso, a utilidade possui uma força ao despertar a nossa atenção para o consumo.
Então a Mercadoria possui um VALOR DE USO que é a utilidade do produto, o que nos leva a consumi-lo para suprir essa necessidade. 
Já o que Marx chamou de VALOR é o processo de fabricação deste objeto (no caso do exemplo, a blusa), que tem um lugar determinado, na fábrica, quando durante a jornada de trabalho, ocorre o processo de exploração do trabalho no capitalismo. Vejamos, no exemplo a seguir:
Quando um(a) trabalhador(a) é contratado por uma determinada jornada de trabalho de 8 horas diárias, estamos considerando, que dentro desta jornada, existem três momentos:
  1. Uma primeira parcela em que com duas horas de atividade em que este trabalhador(a) executou a sua função, ele paga o seu salário.
  2. Uma outra parcela, de duas horas em que a sua atividade paga os custos da produção – matérias-prima, impostos, transporte do produto, a compra de novas máquinas.
  3. Uma terceira parcela de quatro horas em que este trabalhador continua produzindo e estes produtos são o lucro ou um valor a mais – MAIS-VALIA – que o proprietário da fábrica vai se apropriar. 
Esse processo configura o que Marx chamou de essência da sociedade, quando ocorre a produção de objetos, pois é neste momento que o trabalhador vai reproduzindo a sociedade ao aceitar as disposições legais do seu contrato de trabalho e se submete à jornada nele estipulada. Em outros momentos também ocorrem determinações sobre os indivíduos quando vão estabelecendo uma ação de conformidade frente à “dureza” que é o cotidiano da busca do emprego, de pagar as contas, de ser atendido pelo médico, de poder ir ao cinema, enfim, resolver as necessidades materiais – ter acesso à comida, à água potável, a um abrigo seguro, ao conhecimento, e as necessidades subjetivas - sentimentos, desejos, questionamentos, aspirações. 
E na hora em que vive este cotidiano, ele vai sendo sugado pela necessidade de garantir que as metas estabelecidas, no emprego sejam cumpridas: prazos, cotas, produtividade que estão na fábrica, na loja, no banco, na gráfica, no trabalho do cobrador e do motorista de ônibus. No campo a realidade não é diferente, há a exigência de melhor rentabilidade na colheita de tantos alqueires no dia, nas exigências de colher tantas toneladas de cana no dia, enfim. Prazos são estabelecidos e para garanti-los nós não pensamos muito, vamos fazendo, executando e obedecendo, sem questionar. 

Fonte: SEED

O conceito de ideologia na visão de um jovem...

O conceito de ideologia pode ser entendido em múltiplos sentidos, daí as várias interpretações positivas e negativas que foram escritas.

Há um sentido mais corriqueiro que liga ideologia a "falsa realidade" e engano. Sendo assim ela serviria para ocultar relações de dominação, subordinação, opressão. Marx, por exemplo interpretou a idéia jurídica de sujeito livre e trabalho livre como uma forma de ocultamento da realidade da opressão do trabalhador diante da desigualdade fundamental que residiria na questão da propriedade (principalmente dos meios de produção); o trabalhador não seria livre a começar por não haver garantia de igualdade de condições e oportunidade; destituídos (tendo como referência o processo de consolidação do sistema capitalista) de seus antigos vínculos societários, suas antigas relações de trabalho (nas quais possuia o domínio dos instrumentos de trabalho, assim como de seu horário de trabalho) é posto em relações fabris que disciplinam (carga horária e intensidade) o uso de sua força de trabalho.

Também se poderia incluir nessa primeira acepção a crítica de Durkheim ao senso comum e a necessidade de rompimento com ele para a formação de uma ciência. As idéias naturalizadas sobre as coisas não seriam de fato o que as coisas são, pois não se parte de uma postura investigativa, mas aquilo que se pensa que são. Sendo assim, abre-se espaço para falsas visões que contribuiriam para desigualdades e desequilibrios sociais.

Um outro sentido é o que aproxima ideologia de "projeto de sociedade". Seria um ideário colocado no plano político com fins a promover uma ação conjunta na luta contra uma situação de exploração, de desigualdade. Um projeto de sociedade, uma maneira de resolver os problemas sociais, que geralmente também está associada a legitimação de um grupo político. Mas pode ou não estar ligada instrumentalmente aos fins de um grupo político.

Um outro sentido é o de "visão de mundo", que seria um conjunto de idéias que uma pessoa elabora acerca do lugar em que vive.

Todos esses sentidos estão interligados. A ideologia pode ser positiva ou negativa, a depender do ponto de vista, mas ela é necessária e ineliminável, pois é parte do pensar sobre o mundo e formular projetos. Claro que o pensar racional e crítico, a busca de informações, o debate, deve ser mobilizado para formular uma base de crença mais consistente e evitar enganos. A ideologia no fundo é uma forma de tentar controlar o mundo a nossa volta e o futuro da nossa sociedade ou das nossas vidas, que é sempre incerto. O problema é quando a ideologia passa a se crer como o único sistema de crenças verdadeiro.

Gostaria de colocar ainda um ponto. Frisar que ideologia não está ligada necessariamente ao Estado, a presença do Estado no controle da sociedade. As ideologias circulam dentro e fora do Estado. Uma idéia desse tipo quase identifica a ideologia a um regime político mais estatal. (além do que, que nível de eficiência é esse do sistema capitalista? quando mais e mais, este é um dos sentidos da sua evolução, o homem passa a ser substituido pela máquina? e é um sistema no fundo gerido a partir da criação de desigualdade? Essa idéia é típica da acepção da ideologia como naturalização)

Uma boa leitura sobre o tema são os textos do filósofo político italiano Antonio Gramsci, que descreve bem o modo como as ideologias circulam na sociedade civil, envolvendo instituições como escolas, sindicatos, televisão, etc., que não são simplesmente aparelhos ideológicos de dominação do Estado sobre a vida dos sujeitos, mas são também espaços de luta entre visões divergentes. A sociedade civil seria um palco de lutas em prol da construção da hegemonia (convencimento, educação, inculcamento de uma ideologia) para a consolidação de um domínio político. Nesse sentido, o Estado também não seria um instrumento de dominação de classes, mas um lugar de lutas internas, de divergências.

Por fim, a ideologia é tão importante na sociedade capitalista (e creio que em qualquer sociedade) como veículo de formulação de projetos, de dominação política e também de naturalização das coisas (sendo tudo natural, não há porque exigir mudanças, acostuma-se, adapta-se a situação vigente).

Abraço

Capitalismo


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
capitalismo é um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos; decisões sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investimentos não são feitos pelo governo, os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas empresas. É dominante no mundo ocidental desde o final do feudalismo.1 O termo capitalismo foi criado e utilizado por socialistas e anarquistas (Karl Marx, Proudhon, Sombart) no final do século XIX e no início do século XX, para identificar o sistema político-econômico existente na sociedade ocidental quando se referiam a ele em suas críticas, porém, o nome dado pelos idealizadores do sistema político-econômico ocidental, os britânicos John Locke e Adam Smith, dentre outros, já desde o início do século XIX, é liberalismo.2 3
Alguns definem o capitalismo como um sistema onde todos os meios de produção são de propriedade privada, outros o definem como um sistema onde apenas a "maioria" dos meios de produção está em mãos privadas, enquanto outro grupo se refere a esta última definição como uma economia mista com tendência para o capitalismo. A propriedade privada no capitalismo implica o direito de controlar a propriedade, incluindo a determinação de como ela é usada, quem a usa, seja para vender ou alugar, e o direito à renda gerada pela propriedade.4 O capitalismo também se refere ao processo de acumulação de capital. Não há consenso sobre a definição exata do capitalismo, nem como o termo deve ser utilizado como categoria analítica.5 Há, no entanto, pouca controvérsia que a propriedade privada dos meios de produção, criação de produtos ou serviços com fins lucrativos num mercado, e preços e salários, são elementos característicos do capitalismo.6 Há uma variedade de casos históricos em que o termo capitalismo é aplicado, variando no tempo, geografia, política e cultura.7
Economistas, economistas políticos e historiadores tomaram diferentes perspectivas sobre a análise do capitalismo. Economistas costumam enfatizar o grau de que o governo não tem controle sobre os mercados (laissez faire) e sobre os direitos de propriedade. A maioria8 9 dos economistas políticos enfatizam a propriedade privada, as relações de poder, o trabalho assalariado e as classes econômicas.10 Há um certo consenso de que o capitalismo incentiva o crescimento econômico,11 enquanto aprofunda diferenças significativas de renda e riqueza. O grau de liberdade dos mercados, bem como as regras que definem a propriedade privada, são uma questões da política e dos políticos, e muitos Estados que são denominados economias mistas.10
O capitalismo como um sistema intencional de uma economia mista desenvolvida de forma incremental a partir do século XVI na Europa,12 embora organizações proto-capitalistas já existissem no mundo antigo e os aspectos iniciais do capitalismo mercantil já tivessem florescido durante a Baixa Idade Média.131415 O capitalismo se tornou dominante no mundo ocidental depois da queda do feudalismo.15 O capitalismo gradualmente se espalhou pela Europa e, nos séculos XIX e XX, forneceu o principal meio de industrialização na maior parte do mundo.7 As variantes do capitalismo são: o anarco-capitalismo, o capitalismo corporativo, o capitalismo de compadrio, o capitalismo financeiro, o capitalismo laissez-faire, capitalismo tardio, o neo-capitalismo, o pós-capitalismo, o capitalismo de estado, o capitalismo monopolista de Estado e o tecnocapitalismo

Capitalismo


Origens do sistema capitalista, características, lucros e trabalho assalariado, neocolonialismo,
economia de mercado, globalização, economia, fases, história do capitalismo
comércio no final da Idade Média
Comércio no final da Idade Média 
Origens 
Encontramos a origem do sistema capitalista na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Com o renascimento urbano e comercial dos séculos XIII e XIV, surgiu na Europa uma nova classe social: a burguesia. Esta nova classe social buscava o lucro através de atividades comerciais.
 Neste contexto, surgem também os banqueiros e cambistas, cujos ganhos estavam relacionados ao dinheiro em circulação, numa economia que estava em pleno desenvolvimento. Historiadores e economistas identificam nesta burguesia, e também nos cambistas e banqueiros, ideais embrionários do sistema capitalista : lucro, acúmulo de riquezas, controle dos sistemas de produção e expansão dos negócios.
Primeira Fase: Capitalismo Comercial ou Pré-Capitalismo 
Este período estende-se do século XVI ao XVIII. Inicia-se com as Grandes Navegações e Expansões Marítimas Européias, fase em que a burguesia mercante começa a buscar riquezas em outras terras fora da Europa. Os comerciantes e a nobreza estavam a procura de ouro, prata, especiarias e matérias-primas não encontradas em solo europeu. Estes comerciantes, financiados por reis e nobres, ao chegarem à América, por exemplo, vão começar um ciclo de exploração, cujo objetivo principal era o enriquecimento e o acúmulo de capital. Neste contexto, podemos identificar as seguintes características capitalistas : busca do lucros, uso de mão-de-obra assalariada, moeda substituindo o sistema de trocas, relações bancárias, fortalecimento do poder da burguesia e desigualdades sociais.
Segunda Fase: Capitalismo Industrial 
No século XVIII, a Europa passa por uma mudança significativa no que se refere ao sistema de produção. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, fortalece o sistema capitalista e solidifica suas raízes na Europa e em outras regiões do mundo. A Revolução Industrial modificou o sistema de produção, pois colocou a máquina para fazer o trabalho que antes era realizado pelos artesãos. O dono da fábrica conseguiu, desta forma, aumentar sua margem de lucro, pois a produção acontecia com mais rapidez. Se por um lado esta mudança trouxe benefícios ( queda no preço das mercadorias), por outro a população perdeu muito. O desemprego, baixos salários, péssimas condições de trabalho, poluição do ar e rios e acidentes nas máquinas foram problemas enfrentados pelos trabalhadores deste período.
O lucro ficava com o empresário que pagava um salário baixo pela mão-de-obra dos operários. As indústrias, utilizando máquinas à vapor, espalharam-se rapidamente pelos quatro cantos da Europa. O capitalismo ganhava um novo formato. 
Muitos países europeus, no século XIX, começaram a incluir a Ásia e a África dentro deste sistema. Estes dois continentes foram explorados pelos europeus, dentro de um contexto conhecido como neocolonialismo. As populações destes continentes, foram dominadas a força e tiveram suas matérias-primas e riquezas exploradas pelos europeus. Eram também forçados a trabalharem em jazidas de minérios e a consumirem os produtos industrializados das fábricas européias.
Terceira Fase: Capitalismo Monopolista-Financeiro 
Iniciada no século XX, esta fase vai ter no sistema bancário, nas grandes corporações financeiras e no mercado globalizado as molas mestras de desenvolvimento. Podemos dizer que este período está em pleno funcionamento até os dias de hoje.
Grande parte dos lucros e do capital em circulação no mundo passa pelo sistema financeiro. A globalização permitiu as grandes corporações produzirem seus produtos em diversas partes do mundo, buscando a redução de custos. Estas empresas, dentro de uma economia de mercado, vendem estes produtos para vários países, mantendo um comércio ativo de grandes proporções. Os sistemas informatizados possibilitam a circulação e transferência de valores em tempo quase real. Apesar das indústrias e do comercio continuarem a lucrar muito dentro deste sistema, podemos dizer que os sistemas bancário e financeiro são aqueles que mais lucram e acumulam capitais dentro deste contexto econômico atual.
 

IDEOLOGIA DO CAPITALISMO



Prof.Dr.Silvio Gallo*

Juliana está indo de ônibus para o shopping. Como sempre, vai observando a paisagem pela janela, perdida em seus pensamentos. De repente, algo chama sua atenção: um outdoor novo e enorme, todo colorido... uma modelo alta, magra, loura, de olhos azuis posa com uma nova calça da grife "X". Juliana é morena, baixa e até um pouco gordinha, mas fica alucinada com a roupa mostrada no cartaz. Ela precisa comprar uma igual, nem que para isso tenha de fazer um crediário e comprometer seu salário por alguns meses. Já pensou o que suas amigas iriam pensar se a vissem dentro de uma calça como aquela, linda e deslumbrante como a modelo do outdoor? E os garotos, então?

Você já parou para prestar um pouco de atenção nas propagandas que bombardeiam nossos olhos e ouvidos a todo momento? Já pensou sobre as mensagens que nos são transmitidas pelos meios de comunicação: TV, rádio, jornais e revistas, outdoors?
Vamos ficar com apenas um exemplo por enquanto: a propaganda dos cigarros Free. O centro desses comerciais é a afirmação da individualidade e da liberdade: cada indivíduo é livre e deve afirmar-se por meio de sua criatividade, no entanto, sempre há algo em comum, que é preferência por aquela marca de cigarro. O mecanismo é o seguinte: se você fuma Free, você é um sujeito livre, criativo, autônomo; um dos comerciais mostra uma garota que se afirma livre e que não tentem tirar a liberdade dela, pois ela morde! "Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum", esse é o slogan. Consumir essa marca de cigarro é afirmar sua independência e singularidade.
Continuemos com o exemplo das propagandas de cigarro. A marca Hollywood investe na afirmação do sucesso: os comerciais mostram jovens bonitos e sempre bem - sucedidos, induzindo-o a pensar que fumar aquele cigarro fará com que você seja também alguém bonito e bem - sucedido. Já a marca Carlton investe no slogan "um raro prazer"; os comerciais são sofisticados, mostram arte de vanguarda. Essa marca procura investir em pessoas que querem ser refinadas, que ouve, jazz e música clássica, que apreciam balé e arte contemporânea: se você se identifica com a imagem produzida, procurará consumir aquele produto.
O que fica bem evidente nos comerciais de cigarro é o fundamento do mecanismo de qualquer propaganda. Se sua função é vender um determinado produto, é necessário que você se convença da necessidade de consumi-lo. O convencimento do consumidor é a tarefa básica do marketing. Mas esse convencimento, na maioria das vezes, é feito com base em mentiras (talvez fosse menos pesado falar em criação de ilusões): não é verdade que você será mais livre fumando Free, ou terá mais sucesso fumando Hollywood, ou será mais sofisticado se sua "escolha" for o Carlton. De fato, o que mais provavelmente acontecerá é que você ganhará um belo câncer de pulmão com qualquer um deles! E as indústrias que os fabricam ganharão muito dinheiro...
A essa tentativa de convencer as pessoas por meio de um falseamento da realidade nós chamamos de ideologia.

O CONCEITO DE IDEOLOGIA.
A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma "teoria geral das idéias". Foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um livro junto com Friedrich Engels intitulado A ideologia alemã. Nessa obra, eles mostram como, em toda sociedade dividida em classes, aquela classe que domina as demais faz tudo para não perder essa condição. Uma forma de manter-se no poder é usar a violência contra todos aqueles que forem contrários a ela. Mas a violência pode voltar-se também contra ela: a violência pode gerar a revolta do povo. É, então, muito mais fácil e mais eficiente dominar as pessoas pelo convencimento.
É aí que entra a ideologia: ela constituirá um corpo de idéias produzidas pela classe dominante que será disseminado por toda a população, de modo a convencer a todos de que aquela estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. Com o tempo, essas idéias se tornam as idéias de todos; em outras palavras, as idéias da classe dominante tornam-se as idéias dominantes na sociedade.
Essa classe que se encontra no poder vai fazer uso de todos os mecanismos possíveis e imagináveis para distribuir suas idéias para todas as pessoas, fazendo com que acreditem apenas nelas. Numa sociedade de dominação, essa é a função dos meios de comunicação, das escolas, das igrejas e das mais diversas instituições sociais. Onde houver pessoas reunidas, ou mesmo sozinhas, haverá uma forma de ideologia em ação.
A ideologia passa a dominar todos os nossos atos. Quando nos convencemos da verdade dessas idéias, passamos agir inconscientemente guiados por elas, ou seja, o corpo de idéias constituído atravessa nosso pensamento sem nos darmos conta e passamos a desejar o que o outro determina: quando compro um sabonete ou um creme dental, estou fazendo uma "escolha" que me foi determinada pela propaganda. Quando voto num candidato a prefeito, estou fazendo também uma "escolha" determinada pela propaganda pois, na democracia representativa, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de que aquele candidato é o melhor. Não foi por acaso que o filósofo Herbert Marcuse afirmou que "na sociedade, os políticos também se vendem, como sabonetes".
Quando uma ideologia funciona de fato, ela se distribui por toda a sociedade, de forma a fazer com que cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O triunfo de uma ideologia acontece quando todo um grupo social está definitivamente convencido de sua verdade. Se todos estão convencidos, ninguém questiona, e a sociedade pode manter-se sempre da mesma maneira. De certo modo, o sucesso da ideologia está relacionado com o processo da alienação, que analisaremos no capítulo seguinte.

IDEOLOGIA: DESEJO, VONTADE, NECESSIDADE.
Mas o que faz com que o poder de convencimento da ideologia seja tão forte? Se ela é constituída por idéias que falseiam a realidade para que na sociedade tudo continue como está, por que as pessoas simplesmente não se revoltam contra ela?
É parece que a coisa não é assim tão simples. Se fosse, não estaríamos imersos em todo esse processo de dominação e submissão das pessoas.
Para tentar entender o processo de "funcionamento" da ideologia, voltemos à questão da propaganda. O que leva um sujeito a fumar Hollywood? Por que ele não se dá conta de que seu sucesso não depende do cigarro que ele fuma ou deixa de fumar?
É claro que todo indivíduo deseja ter sucesso na vida. Mas também é evidente que, numa sociedade de dominação e desigualdades, o sucesso não é possível para todos. Para que alguns possam ser muito bem - sucedidos, é necessário que muitos outros permaneçam na miséria. Se for alardeado pelos meios de comunicação que o sucesso não é possível para todos, certamente teremos uma boa dose de inconformismo social que pode levar até mesmo a violentas revoltas. A ideologia trata então de disseminar a idéia de que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo, cada indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na miséria...
Às vezes, alguém se esforça ao limite, mas nada de chegar ao sucesso . Ele permanece como um ideal, um sonho quase inatingível, mas do qual não abrimos mão, do qual jamais desistiremos. Quando esse indivíduo vê o belíssimo comercial do cigarro que estampa a imagem do sucesso, algo desperta, bem lá no íntimo de seu ser. Inconscientemente, ele associa a imagem do cigarro à imagem do sucesso, e renova suas forças na busca de obtê-lo. Fumar Hollywood é ser bem - sucedido, embora, na verdade, ele continue insatisfeito com seu trabalho, seu salário, com seu casamento...
Você já deve Ter conseguido perceber o que estamos tentando explicar: a ideologia funciona tão bem porque age atravessando e invadindo o íntimo das pessoas. E embora seja um corpo de idéias, não domina pela idéia, mas pelas necessidades criadas por essas idéias, pelos desejos que elas despertam. O discurso ideológico é aquele que consegue tocar nas vontades e ambições mais íntimas de cada indivíduo, dando-lhe a ilusão de sua realização. Alguém fuma Marlboro e tem a ilusão de sua realiza sua vontade de ter acesso a um outro mundo, a uma terra de liberdade, um pasto para cavalos , lugar de homem corajoso e forte que, com bravura, realiza-se no que faz; alguns passam a ver seu patrão como um ideal a ser alcançado, como alguém que gostaria de ser, imaginando que ele alcançou o sucesso, tem tudo o que quer e é feliz; alguém tem a vontade de tomar a vitamina Eletrizan para ter mais energia; alguém quase careca usa um xampu que lhe promete uma abundante cabeleira, e assim por diante.
Para sermos mais enfáticos, além de lidar com as necessidades e as vontades e de influenciar os desejos das pessoas, a propaganda produz outras necessidades e administra sua satisfação, de modo que cada um tenha uma ilusão de felicidade, uma ilusão de prazer e se acomode à situação vivida de sempre querer mais. O consumismo nada mais é do que a afirmação dessa realidade de realizar os desejos dos outros como se fossem nossos. Por que você sempre precisa usar uma roupa de grife? Ou cortar o cabelo de acordo com a moda? Enquanto você consome, suas vontades vão sendo realizadas, mas, ao mesmo tempo, novas necessidades vão sendo criadas, de forma que é praticamente impossível escapar dessa "roda viva". Enquanto você consome, não questiona a sociedade na qual vive nem que o leva a consumir tanto.
No âmbito da política, a ideologia aparece da mesma forma. Observe as propagandas em época de eleições. Elas sempre tocam nas necessidades básicas das pessoas. Os candidatos que saem vencedores nas eleições são sempre aqueles que melhor conseguirem tocar nos desejos dos eleitores, que conseguiram produzir neles a idéia de uma satisfação futura. Desse modo, nem sempre votamos nos candidatos que poderiam defender melhor nossos interesses sociais; na maioria das vezes, ao contrário, votamos naqueles que, de algum modo, prometem uma satisfação para nossos desejos.


*Coordenador do Curso de Filosofia da Unimep e do Gesef Institute

Ideologia - Musica Cazuza


Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver...

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver..
Ideologia!
Pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...

Resenha "Quem somos nós?"



(...) Na física quântica esta dependência do ser de uma coisa em relação a seu ambiente geral é chamada "contextualismo", e suas implicações são muitas, tanto para nosso conceito de realidade quanto para nosso entendimento sobre nós mesmos como parceiros nesta realidade. Este contextualismo é uma das razões centrais da afirmação de que a teoria quântica deverá finalmente contribuir para uma nova visão de mundo, com suas próprias e distintas dimensões epistemológicas, morais e espirituais.
A dimensão epistemológica — qual a natureza de nosso conhecimento e o que entendemos por verdade? — foi muito bem expressa na fenomenologia do filósofo francês Merleau-Ponty no que ele chamou a "verdade dentro de uma situação": Enquanto mantenho diante de mim o ideal de um observador absoluto, do conhecimento na ausência de todos os pontos de vista, só posso ver minha situação como uma fonte de erro. Mas, tendo reconhecido que através dele sou dirigido a todas as ações e a todo conhecimento significativos para mim, então meu contato com o social na finitude de minha situação revelou-me o ponto de partida de toda verdade, incluindo a científica, e, uma vez que temos alguma ideia da verdade, uma vez que estamos dentro da verdade e não podemos sair dela, tudo o que posso fazer é definir uma verdade dentro de uma situação.
Toda ação psicológica está ligada a influência das moléculas de emoção. As emoções colorem a riqueza de nossas experiências. Quer dizer que não olhamos nada sem envolvermos o aspecto emocional. Nos odiamos inconscientemente, nos desprezamos, decepcionamos nossas virtudes. Nossos pensamentos constroem. Podemos romper e perceber nossa beleza, riqueza e grandeza. Precisamos buscar o saber sem qualquer interferência dos nossos hábitos. E se pudermos fazer isso, manifestamos o saber na realidade e nossos corpos o vivenciarão de novas maneiras, numa nova química em novos hologramas em outros novos lugares de pensamento. Além de nossos sonhos mais arrojados.
Considerar que podemos nos focar no que realmente importa para nossas escolhas e caminhos. O descondicionamento se dará por meio de novos hábitos favoráveis conscientemente selecionados. Ao tomarmos consciência das escolhas indevidas e dos prejuízos que nos causam podemos começar a desconstruir estas vias potencializando outras reações e mesmo ações adequadas. No instante em que reconhecemos nosso poder de co-criador, não vamos mais escamotear a responsabilidade que temos de assumir as consequências de nossas decisões, escolhas, opções. Isto nos fortalece e nos impõe um compromisso de estarmos cônscios do que fazemos e de suas consequências para nós e para os outros. Ao sair do túnel, podemos perceber que ainda não sabemos quem somos nós. Mas, estamos a caminho.
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Psicologia Social


A psicologia social norte-americana tem origem inicialmente na II Guerra Mundial, não só com a diáspora de muitos cientistas sociais, sobretudo alemães e austríacos, como também com a colaboração dos cientistas sociais ocidentais no esforço de guerra, assim como no pós-guerra, em especial quando da reconstrução da Europa destruída pela guerra, e o desenvolvimento de centros de pesquisa em psicologia social organizados e orientados por eminentes psicólogos sociais europeus. A psicologia social genuinamente europeia deveria é como se fosse um movimento de resistência ao modelo dominante de psicologia social, o behaviorismo.
As críticas apresentadas pelos psicólogos sociais europeus contra a perspectiva predominante na psicologia social norte-americana são: excesso de individualismo, a-historicismo, excessivamente etnocêntrica, neo-positivista e centrada por demais nos experimentos de laboratório.
A Psicologia Social Sociológica tem suas raízes nas ciências sociais e humanas europeias com a tradição wissenschaft no interior do sistema universitário alemão. Durkheim separa a sociologia e a psicologia dizendo que as “representações coletivas” fazem parte da Sociologia que se tornou campo da Psicologia Social Sociológica e que as “representações individuais” fazem parte da Psicologia constituindo a Psicologia Social Psicológica.
Para Allport, as raízes da psicologia social é localizada no campo atualmente denominado “ciência política”. A psicologia norte-americana é orientada por uma perspectiva utilitarista. Ela mantem uma preocupação em vincular a psicologia com a análise e a apresentação de soluções para problemas sociais com base no individuo e no comportamento.

“A individualização da Psicologia Social”,


Uma das principais preocupações de Farr é de “contar a historia da Psicologia social” delimitando suas origens e diferenças; uma psicologia social predominantemente americana, que difere da psicologia social europeia, esta, teria representado um movimento de resistência contra o positivismo da psicologia social norte-americana. Tendo em vista este objetivo ele discorre sobre alguns elementos importantes capazes de esclarecer esta diferenciação. Seu ponto de partida é a suposição de que a psicologia social moderna é um fenômeno predominantemente americano.
Farr começa a reflexão de seu texto com o Allport, criticando a influência das filosofias positivistas na elaboração dos relatos sobre a psicologia social na era moderna. As raízes da psicologia social são encontradas nas ciências sociais e humanas sendo essencialmente europeias. Mas Farr cita a tradição da Wissenschaft no interior do sistema universitário alemão como marco do nascimento da universidade moderna e a controvérsia entre a divisão do que era do campo das ciências sociais/humanas (Geisteswissenschaften) do que fazia parte das ciências naturais (Naturwissenschaften).
Durkheim ao separar a sociologia da psicologia criou uma crise de identidade para os psicólogos sociais e nesse contexto a psicologia social se desenvolveu tanto com uma psicologia social psicológica com também, como uma psicologia social sociológica.
Durkheim não foi o único a insistir que os fenômenos coletivos e individuas deveriam ser tratados separadamente. Wundt em “psicologia das Massas” (Völkerpsychologie) trata de linguagem, mito, magia, religião, costumes e os fenômenos cognatos e estes são compatíveis com as representações coletivas de Durkheim. Uma tentativa de não reduzir o sujeito.
A psicologia social moderna é considerada pelo autor um fenômeno caracteristicamente norte-americano. Segundo o autor isso se deve a contribuição de Allport para a individualização da disciplina, característica direta do behaviorismo e o experimentalismo. “Os behavioristas da América, assim como a geração mais jovem de experimentalistas alemães estudadas por Danziger, afirmavam que a psicologia era, em seu conjunto, um ramo das ciências naturais, assim repudiando Wundt. A emergência da psicologia social como uma ciência social experimental e comportamental foi, como Gordon Allport (1954) pretendia, um fenômeno caracteristicamente norte-americano” (FARR, p. 16).
Mas dentro desse mesmo contexto, não era somente o Behaviorismo que se desenvolvia na América na Norte que contribuía para a individualização da Psicologia social, na Europa a corrente teórica era a Gestalt. Os gelstaltistas com a emigração à América se depararam com o behaviorismo, paradigma dominante para a pesquisa em psicologia.
“A perspectiva da Gestalt individualizou o social tão efetivamente quanto o behaviorismo já o tinha feito. A individualização, desta vez, era em termos de percepção, e não de comportamento”. (Farr, p. 21) Perspectiva essa que não contribuiu para a constituição da psicologia social segundo Farr.
E ao se pensar em uma psicologia social para o contexto da americana latina creio que o paradigma seja o próprio contexto em que a psicologia social se desenvolveu. Farr mostra a posição da psicologia social norte-americana como sendo aquela de referencia e sendo assim, deve se refletir sobre as diferenças biopsicossociais e históricas da América do Norte e da América Latina.

Aprendizagem significativa: ideias de estudantes concluintes de curso superior


Trata se de um estudo realizado por Bernardo Buchweitz no qual ele verifica a Teoria da Aprendizagem Significativa com o ensino em sala de aula, o ensino formal. A sua pesquisa foi realizada com uma amostra de quarenta estudantes concluintes do ensino Superior do curso de graduação em Licenciatura em Física e Ciências Biológicas, a investigação foi feita através de questionários divida em duas etapas.
Na primeira etapa foi solicitado pra que os estudantes selecionassem e descrevessem uma aprendizagem que foi significativa ao longo de sua vida. O resultado identificado nessa etapa foi de que os relatos envolvem tanto aprendizagem cognitiva, como de atitude e habilidades. O autor faz a ressalva de que os três tipos de aprendizagem andam juntas, mas, que nesse experimento em especifico, foi feito essa classificação de acordo com a predominância em cada situação de aprendizagem relatada pelos estudantes.
Em relação ao local onde ocorreu a aprendizagem significativa a pesquisa verificou a ocorrência da aprendizagem dentro e fora da sala de aula. A comparação apontou que a frequência ocorrida fora da sala de aula foi praticamente o dobro daquele ocorrido em sala de aula, numa situação de ensino formal, a participação ativa dos estudantes foi proporcionalmente maior. Na análise dos relatos o autor observa que a duração do tempo em que a aprendizagem significativa ocorreu foi inferior a uma hora na maioria dos relatos. Os relatos foram ainda divididos em categorias, na qual, a categoria de Aprendizagem de valores, ou reflexos na mudança de comportamentos e/ou procedimentos, demonstrou uma alta frequência das respostas dadas.
A segunda etapa do experimento ocorreu aproximadamente um mês após a primeira etapa. Nessa segunda fase, foi solicitado para que os estudantes comentassem os resultados da primeira fase. Através das respostas obtidas foi possível identificar uma gama de motivos ou grande destaque coube à participação ativa como fator decisivo na aprendizagem e na retenção do conhecimento” (Buchweitz B., pg9). No entendimento dos estudantes essa característica é mais presente nas tarefas do cotidiano, o que de alguma maneira, contribui para o resultado ter ocorrido com uma frequência maior de aprendizagem significativa fora da sala de aula. Além da participação ativa foi possível observar uma frequência significativa referente ao interesse, motivação, prazer e gostar.
Os resultados relatados são ideias sobre aprendizagem significativa trazidas por estudantes, semelhante ou não, as ideia dos psicólogos e educadores. Os estudantes que participaram desta investigação apresentaram informações de aprendizagens que consideraram mais significativas ao longo de suas vidas sem nunca terem estudado a teoria de Ausubel ou de outros referenciais teóricos. Os estudantes enfatizaram a importância da participação ativa no processo ensino e aprendizagem e, quando foram solicitados a indicar porque consideraram significativa a aprendizagem relatada, indicaram categorias como a retenção do conhecimento e sua aplicação em situações novas, características relacionadas com teorias de aprendizagem significativa como a de Ausubel.
A classificação e caracterização dessa aprendizagem em geral está relacionada com a mudança ou evolução da estrutura cognitiva do indivíduo, que na pesquisa foi relatada pela grande maioria dos estudantes como uma Aprendizagem de valores, ou reflexos na mudança de comportamentos e/ou procedimentos. Para Ausubel é essencial que haja uma interação entre a nova informação e os conhecimentos prévios, existentes na estrutura cognitiva do estudante, definidos como pontos de ancoragem e, para conhecimentos mais específicos, como conceitos subsunçores. 
Havendo essa interação, e a nova informação adquirindo significado para o aprendiz, sendo assimilada e contribuindo para a sua diferenciação, reconciliação e retenção, a aprendizagem é dita como significativa. Para isso, é essencial que nessa interação as novas informações adquiram significado e sejam integradas à estrutura cognitiva de maneira não arbitrária, contribuindo para a diferenciação, elaboração e estabilidade dos conhecimentos ou subsunçores existentes.“Alguns autores como Novak e Gowin propõem a ideia de que a maioria das aprendizagens escolares esta mais próxima de ser mecânica do que significativa” (Buchweitz, p. 10), pelo fato de que não é comum aos professores organizarem suas aulas de modo a objetivar ou proporcionar a ocorrência da aprendizagem significativa.
Gowin também considera que num episódio de ensino em que ocorre a interação entre o estudante, o professor e o material educativo, o estudante capta os significados (compartilhados com o professor) do conhecimento contido no material educativo. Mas captar o significado é um passo anterior à aprendizagem significativa. O estudante não só tem que compreender os significados, mas seguir com a postura de aprender o assunto efetivamente por meio de estudos, aplicações e trabalhos adicionais. Se por um lado a aprendizagem é responsabilidade do aprendiz, por outro lado, a ideia da aprendizagem significativa e os resultados desta investigação demonstram a importância e necessidade do professor em refletir a esse respeito e agir no sentido de tentar criar condições adequadas para encaminhar a ocorrência da aprendizagem significativa, mesmo que isso não seja comum. Buchweitz em seu trabalho ainda faz o alerta de como a experiência e a vivencia educacional tem mostrado que as teorias de aprendizagem não são conhecidas pela grande maioria dos professores das escolas e universidades brasileiras e, entre aqueles educadores que conhecem, nem sempre ou poucas vezes as utilizam efetivamente.

Relato de pesquisa: sala de aula


Ao iniciarmos a atividade observacional numa sala de aula de uma escola para aproximarmo-nos da realidade daqueles que formam a classe – professores, alunos, funcionários da escola – e sobre base teórica, que neste caso utilizaremos o modelo bioecológico de Bronfenbrenner e suas contribuições para o desenvolvimento humano, buscar encontrar motivos e/ou valores que influenciam consideravelmente na aprendizagem, no desenvolvimento, na interação daqueles que formam aquele grupo. 
Vários são os fatores que influenciam nos resultados do desenvolvimento humano, a transição biológica e social relacionada aos aspectos culturalmente definidos como: idade, expectativas de papel e de oportunidades ao longo da vida. As transições são: as normativas, a entrada da criança na escola, a puberdade, o início da atividade ocupacional, o casamento e a aposentadoria e as não-normativas, uma doença séria na família, uma morte, divórcio, mudanças súbitas, perda de emprego, de moradia ou mesmo ganhar um prêmio. Mesmo assim, a vida dos membros de um mesmo sistema, são interdependentes, sendo afetadas pela maneira como reagem às transições. Em caso especial, na família essas mudanças de transições podem afetar de modo a percorrer por gerações esse processo histórico afetando seu desenvolvimento.
A pesquisa, neste caso observacional, propõe a interação de diferentes esferas do funcionamento psicológico e de desenvolvimento. A abordagem ecológica realça a necessidade da observação naturalística. Ressalta a importância das pesquisas por descobertas, não verificando simplesmente hipóteses, mas procura compreender a realidade estudada de forma contextualizada e ampla. Assim inicia-se o procedimento de inserção ecológica, onde a pesquisa será efetivada no ambiente de investigação, com o fim de que ela venha ser parte integrante do objeto investigado.
De posse de dados que apontem como os processos intrafamiliares são afetados por condições extrafamiliares, teremos como saber o que afeta a capacidade das famílias de não gerenciarem com qualidade e saúde as suas crianças. Por ser contextualizada e interacionista a Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner, destaca esses processos em diversos níveis de diferentes sistemas, por que o modelo proposto produz uma constante interação entre os aspectos da natureza e o ambiente, onde os fatores hereditários da pessoa influenciam e são influenciados pelo ambiente. Nele o indivíduo é um ser ativo, capaz de modificar-se e modificar seu meio. Os principais mecanismos desse modelo são os processos proximais, dando ênfase ao aspecto qualitativo de desenvolvimento. Ela demonstra o desenvolvimento da pessoa em seu aspecto ontogenético, quanto na história da humanidade, porque as alterações ocorrem ao longo dos tempos e das gerações.
Nas observações como pontos fortes destacamos segundo a teoria de Bronfenbrenner, os aspectos:
1} o contexto sociocultural;
2} a sensibilidade à diversidade e à pluralidade do desenvolvimento em diferentes culturas e em determinados períodos históricos;
3} a articulação entre vários níveis de análise, tanto na teoria quanto na pesquisa;
4} a integração entre ciência teórica e empiricamente fundada, rompendo com a tradicional dicotomia encontrada em pesquisa;
5} a proposta da observação naturalística;
6} a valorização da aprendizagem cotidiana;
7} a integração de aspectos políticos ao processo de pesquisa.
Os aspectos, Pessoa-Processo-Contexto-Tempo, os quais devem ser constantemente, relacionados uns com os outros proporcionando interação de análises como também encontrando neles as alterações que naturalmente ocorrem, direcionam as pessoas para novas mudanças que serão objeto de novas pesquisas.
A observação, por meio do modelo bioecológico, promoveu consideráveis mudanças em nosso olhar. De uma base de críticas, não verbalizadas, quanto às reações dos alunos no seu dia-a-dia escolar que não eram compatíveis para uma sala de aula, passamos para uma nova base, que permitirá com o olhar atento nos contextos e nas interações que cada um dos alunos possuem, administrar e/ou gerenciar novos modelos de aprendizagem que possam proporcionar em seu substrato de experiências, valores e modelos de operacionalizar a vida, buscando atenuar os golpes das interferências intra e extra indivíduo, que fomentarão a eles força e coragem para o enfrentamento das adversidades que são comuns a todos as pessoas, mas que podem ser superadas com o olhar do educador, dos pais, da sociedade como um todo, por aquelas crianças e adolescentes que vislumbram por uma vida melhor. 
Não importa o sistema que encontraremos, se é micro, meso ou macro. Importa que neles encontram-se pessoas e não somente alunos. Essa particularidade, provocarão constantes alternâncias nos grupos que estão intimamente ligados ao projeto de pesquisa. Segundo a pesquisadora Sílvia Koeller, Bronfenbrenner com seu modelo bioecológico “mudou nosso modo de olhar o mundo”.

RESENHA CRÍTICA SOBRE O DOCUMENTÁRIO “JANELA DA ALMA”

O documentário “Janela da alma”, de João Jardim e Walter Carvalho, lançado no Brasil em 2001 pela Empresa Produtora TAMBELLINI FILMES E PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS LTDA e a Co-produção: DUETO FILMES em associação com Estúdios Mega e Tibet. filme. É um recorte de aproximadamente 73 minutos de imagens e depoimentos, onde as experiências e as opiniões dos 19 entrevistados estão intercaladas por jogos de imagens focadas e desfocadas em vários ângulos com o intuito de proporcionar ao expectador a sensação de “enxergar o mundo através do olhar da pessoa que possui alguma alteração, da miopia discreta até a cegueira total, na capacidade visual”.

O título da obra remete à citação atribuída a Leonardo Da Vinci, na qual diz que ”Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo”. O neurologista inglês Oliver Sacks em sua entrevista complementa a citação, “Dizemos que os olhos são a Janela da Alma, sugerimos de certa forma que olhos são passivos e que as coisas apenas entram. Mas a alma e a imaginação também saem o que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nosso anseio, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura e pela teoria cientifica mais recente”. A impressão que surge nos primeiros minutos iniciais do documentário, é de que se trata de uma abordagem sobre o ato de ver, sobre a visão, e sobre como determinadas pessoas que possuem problemas na acuidade visual lidam com isso. No entanto, o documentário vai mais além, não se resignando apenas a tratar da visão (ou da falta dela) a partir de um lado pessimista ou limitador do que é enxergar. O tema é desenvolvido de maneira enriquecedora. Não há pontos de vista a serem defendidos e nisso, o documentário possibilita inúmeras reflexões, a depender da experiência de cada um.

Na história do cinema nacional, o documentário “Janela da alma” teve o maior público para um documentário desde a década de 90, e ganhou o prêmio do júri e do público na Amostra Internacional de Cinema de São Paulo. O carioca João Jardim estudou cinema na Universidade de New York e começou como assistente de direção. Trabalhou com Paul Mazursky em Luar sobre Parador (1988), com Murilo Salles em Faca de dois gumes (1989) e com Carlos Diegues em Dias melhores virão (1989). Montou programas musicais para televisão, produzidos pela Conspiração Filmes, entre os quais Tudo ao mesmo tempo agora (1991), com os Titãs, Mais (1991), com a cantora Marisa Monte, e Caetano 50 anos (1992), com Caetano Veloso. Na Rede Globo integrou o núcleo de produção dirigido por Carlos Manga e editou e dirigiu minisséries, entre elas Engraçadinha. Em 2005, finalizou Pro dia nascer feliz, documentário que aborda a educação pública na adolescência em diversas regiões do país, que ganhou o prêmio especial do júri no 10º Cine - PE e foi selecionado pro Festival de Gramado 2006.

E o premiado diretor de fotografia, Walter Carvalho, trabalhou com grandes nomes do cinema nacional, como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Estabeleceu sua mais constante parceria com o cineasta Walter Salles, com quem trabalhou em Abril despedaçado (2001), O primeiro dia (2000), Central do Brasil (1998), Terra estrangeira (1995) e nos documentários Socorro Nobre (1995) e Krajcberg, o poeta dos vestígios (1987). Começou no cinema trabalhando em filmes de seu irmão, o documentarista Vladimir Carvalho, e como assistente dos diretores de fotografia José Medeiros, Dib Lutfi e Fernando Duarte. Fez também novelas e minisséries para TV. Entre os mais de 40 prêmios que já recebeu, destacam-se os troféus em festivais internacionais voltados para fotografia, como o CameraImage, na Polônia, em que recebeu o Golden Frog por Central do Brasil, e o Festival da Macedônia, onde recebeu a Câmera de Prata por Terra estrangeira e duas Câmeras de Ouro, por Central do Brasil e Lavoura arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho. Por este filme recebeu ainda os troféus de melhor fotografia nos festivais de Cartagena e Havana, o prêmio da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e o Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro. Assinou também a fotografia de longas como, Janela da alma, realizado em parceria com João Jardim, um sucesso de crítica e público, entre outros.

O primeiro depoimento apresentado no documentário “Janela da alma”, é do Hermeto Pascoal, músico instrumentista. No qual, ele relata que não consegue fixar os olhos em um único objeto, suas pupilas se movem ininterruptamente em direções diferentes e segundo o músico, sua vista é mais rica, porque enxerga mais.



Em depoimento seguinte, o escritor José Saramago, Nobel por seu livro Ensaio sobre a Cegueira, dá continuidade recortando o tema de Janela da Alma. Para Saramago, “a visão limitada do homem o faz ser como é”. Ele faz uma parábola e imagina que se Romeu tivesse os olhos de falcão, provavelmente não se interessaria por Julieta, já que ele enxergaria muito mais defeitos do que o olho humano é capaz de fazê-lo. No documentário Saramago diz como surgiu a ideia para escrever Ensaio sobre a Cegueira, quando se perguntou como seria o mundo se todos fôssemos cegos. De acordo com sua reflexão, a resposta é que já somos, tendo em vista à total desordem que assola o mundo, o desafeto, a miséria etc.

Assim, o documentário de Jardim e Carvalho, embora não negue em determinados momentos uma investigação mais banal sobre o tema, se aprofunda em uma discussão plural e abstrata, em que o tema “visão” é apenas um propulsor para diversas compreensões de mundo, sejam elas de cunho artístico, filosófico, poético, científico ou social.

O fato é que a obra esbarra talvez de modo involuntário, na questão filosófica acerca da beleza: “Ela é inerente ao mundo ou só existe porque somos capazes de percebê-la através da visão?”. Entre outros questionamentos também abordados, são: “O ‘enquadramento’ da armação dos óculos limita a visão no sentido da percepção?”, “A ausência de um sentido, no caso a visão, influência de modo a aumenta a capacidade de outro órgão do sentido?”, “Cegos sonham com imagens visuais?”, esses entre outros questionamentos são discutidos no decorrer das entrevistas.

Talvez seja disso que o filósofo esloveno Evgen Bavcar queira falar com suas fotografias. Bavcar se tornou cego após dois acidentes de guerra. As perguntas imediatas que qualquer um faria não são colocadas pelo documentário, “Pode um cego fotografar? Qual é o valor artístico de um fotógrafo que não vê o que enquadra?”. Essas perguntas não são feitas mas, mostra o fotógrafo em ação, fazendo fotografias e medindo com as mãos o foco, tateando o espaço entre a câmera e a modelo. Evgen Bavcar também não problematiza a questão, pelo contrário, se mostra tão surpreso quanto qualquer outro, falando que a primeira vez que revelou as fotografias feitas após a cegueira, não acreditou quando disseram que havia ali imagens. Mas há um determinado trecho no documentário que é revelador, quando Bavcar mostra as fotos que fez de sua sobrinha no campo. Enquanto ela corria com um sininho, ele podia seguir seus movimentos através do som. Ele explica que fotografou, na verdade, o barulho desse sino, que não aparece nas fotos. Assim, ele estaria fotografando o invisível.

No que diz respeito a nós estudantes ou profissionais de Psicologia, a obra faz uma abordagem, no mínimo um tanto diferente, sobre a questão da percepção que esta intimamente ligada com a visão. O que nossas retinas captam é apenas uma pequena parte daquilo que vemos. A luz varia em comprimento de onda, amplitude e pureza. Ela entra nos olhos através da córnea e pupila e é focalizada na retina pela lente. A retina transforma a luz em impulsos neurais que são enviados ao cérebro através do nervo óptico. Campos de receptores são áreas da retina que afetam a descarga nas células visuais. Elas variam em direção e formato, mas disposições centrais circunvizinhas são comuns. Duas trilhas visuais para o cérebro enviam sinais através do tálamo e de diferentes áreas do córtex visual, que contém células que parecem funcionar como detectoras de características.

Percepções de cor são primeiramente uma função do comprimento de onda de luz, enquanto a amplitude afeta o brilho, a pureza afeta a saturação. Percepções de cores dependem de processos que se assemelham à mistura aditiva de cores. De acordo com as teorias de análise de características, as pessoas detectam elementos específicos em estímulos e com eles montam uma forma reconhecível. A Psicologia Gestáltica enfatiza que o todo pode ser diferente da soma de duas partes. Na perspectiva neurológica, nem sempre o que percebemos é o que existe: nosso cérebro é “craque” em ativar memórias, existentes ou não.



A percepção que se tem do mundo é um opinião tão singular quanto cada indivíduo que as têm. Se visão da realidade já varia entre as pessoas que possuem o órgão da visão em pleno funcionamento, o que dizer então, sobre as pessoas com problemas na acuidade visual; “Vocês nunca se vêem fora de foco, pensando fora de foco. Você acha que pensa direito. Às vezes você acha que tem dúvidas, certezas! A idéia de fora de foco, no nosso mundo visual, é muito grave. Eu não me penso fora de foco, o mundo é que está fora de foco ou eu estou fora de foco?” (Marieta Severo). Na nossa concepção, a percepção é muito mais além do simples olhar, é um processo que envolve vários pólos, desde captação do estímulo e sua transformação em imagem, a emoção presente no contexto, o processo de ativação da memória, a interpretação mediadas pelos nossos valores, a nossa bagagem cultural à mudança comportamental, que as formas de percepções podem ocasionar.

Pro dia nascer feliz: uma lente sobre a educação

 

“Pro dia nascer feliz” tem o mérito de abordar o tema da educação sob forma documental. O filme desmascara o shopping-escola mostrado na TV e mostra o abismo que existe entre as escolas de elite e as escolas públicas. Por Ronan

Junto com o crédito imobiliário, o cinema nacional também é um setor quase totalmente financiado por recursos públicos. Há ainda a semelhança de retirar recursos de todos e atender mais especificamente a classe média. O cinema nacional tem uma enorme dívida com a população brasileira. Apesar do bom exemplo de alguns filmes, como Cronicamente Inviável (2000), Central do Brasil (1998), Tropa de Elite (2007), O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003), Notícias de uma Guerra Particular (1999) e Braços Cruzados, Máquinas Paradas (1978), há muito a ser feito.
pro-dia7
Descontração na sala de aula
Independente das leituras que se possa ter sobre os títulos citados, inegavelmente eles jogam luz sobre problemas brasileiros, forçando o debate e um maior esclarecimento sobre questões importantes. Num país com pouca leitura e milhões de iletrados ou analfabetos funcionais, o cinema adquire maior importância pedagógica. Muitos temas estão a espera de um filme à altura: biografias nacionais, a formação do país, o modelo de desenvolvimento, a questão urbana, a questão indígena, transportes, estrutura política, clientelismo, infância, novas migrações, moradia, movimentos sociais, escravidão, racismo… Falta-nos um Spike Lee, um Moore, um Mário Van Peebles (do magistral Panteras Negras, E.U.A., 1995). Nesse sentido, foi uma boa notícia a realização de Pro Dia Nascer Feliz (2007), filme documentário de João Jardim que aborda a educação no país.
pro-dia4
Professoras em conselho de classe
Ainda está para ser feito “o filme” sobre educação no Brasil, e o meu palpite é que um trabalho para dar conta da questão precisaria adotar a metodologia de O Prisioneiro da Grade de Ferro: treinar as pessoas envolvidas para manusearem as câmeras e deixar que elas filmem o seu cotidiano. Por mais desgraçado que seja o ambiente escolar mostrado, a simples presença de pessoas filmando acaba por esconder fatos, pois força um outro comportamento. Um exemplo é ver no filme a ausência de xingamentos e ofensas contra os alunos e suas famílias em reunião de professores. Apesar disso, Pro Dia Nascer Feliz é um dos melhores filmes que eu conheço sobre o tema e faz par com o francês Entre os Muros da Escola (2008) como roteiro obrigatório para gente da área ou interessados em geral.
A sinopse oficial de Pro Dia Nascer Feliz afirma que o filme trata da relação do adolescente com a escola, focando também a desigualdade social e a banalização da violência. De fato, o filme mostra o cotidiano escolar de uma região extremamente pobre em Pernambuco, outra precarizada no Rio de Janeiro, umas em situação de barbárie em São Paulo, uma em estado razoável em Itaquaquecetuba (SP) e uma escola de elite de São Paulo. Há uma nítida opção pelo aluno, mostrando jovens pressionados em busca de resultados, outros abandonados física e afetivamente pelos pais, submetidos a um conflito de gerações com os professores, abandonados por uma escola que muitas vezes nem aula tem. Mostra que há angústias comuns entre os jovens de todas as classes, mas um abismo social que os separa.
O mérito do filme está, primeiro, em abordar a questão sob forma documental. É um antídoto para Malhação, programa da TV aberta brasileira, de alta audiência entre os jovens, que aborda o cotidiano de uma escola particular. Eis que no vaivém dos capítulos de Malhação, a pretexto de se falar de estudantes e escola, os alunos não são focados como tais, mas como elementos conviventes em um shopping. Tanto é que praticamente só é focado o espaço fora da sala de aula, há pouco de estudantes e pouco de escola. No programa é mostrado namoro, fofocas, moda, briguinhas entre grupos, corpos belos, muito consumo, mas nenhuma pessoa na real condição de estudante, menos ainda do que é a média do estudante brasileiro. Certamente, se Malhação mostrasse a realidade do cotidiano escolar da população não teria a audiência que o shopping batizado de escola lhe dá. Trata-se de um exemplo do que não é a educação brasileira. Pro Dia Nascer Feliz desmascara o shopping-escola mostrado na TV.
Outro mérito: o filme conseguiu fugir de dois grandes estereótipos em filmes sobre educação. Geralmente, o romantismo é base do assunto e foca-se no professor, mostrando-o como herói. Num estereótipo, o professor é o herói libertário despertador de paixões, a exemplo de Escritores da Liberdade (E.U.A., 2007) e Sociedade dos Poetas Mortos (E.U.A., 1989). O salário, o trabalho e todas as adversidades não são entraves para o heroísmo individual docente, cuja vontade é capaz de derrotar todos os problemas. No outro estereótipo, em filmes como Ao Mestre com Carinho (E.U.A., 1967), o professor é retratado como um herói autoritário, regenerador moral, cujo pulso firme é o fio condutor da salvação de alunos tidos como moralmente perdidos. Em Mentes Perigosas (E.U.A., 1995), novamente o heroísmo individual da professora é a fonte de humanização de alunos selvagens.
pro-dia5
Sala de aula precária
Pro Dia Nascer Feliz foca o aluno e mostra o professor tal qual ele é: na escola dos pobres, um trabalhador precarizado tão vitimizado quanto os alunos e impotente diante do caos em que se vê imerso. Na escola dos ricos, um elemento de classe média desfrutando do status e respeito que as condições lhe oferecem. Aliás, uma forma interessante de se pensar o filme está na comparação da figura dos professores das diferentes escolas. De um lado, professoras descabeladas, com olheiras, cansaço visível e uma situação que leva muitos aos calmantes e antidepressivos: xingamentos, ofensas, descaso e a convivência em escolas e bairros que são uma tortura estética. Do outro, a suavidade de uma professora falando de O Cortiço, de Aloísio Azevedo, do alto de seu salário de R$ 6 mil mensais, sem expressão de cansaço, muito bem vestida e diante de uma platéia silenciosa de futuros vencedores, num ambiente aprazível, limpo e arborizado; da cadeira ou sofá pode-se sentir o frescor que o ambiente transmite.
Esse ponto é importante no filme. Embora se possa desejar que o professorado deveria ser melhor e mais ativo quanto à organização do trabalho educacional, o filme mostra claramente como é falaciosa a tentativa de se culpar pura e unicamente os professores pelo fracasso educacional. Se em algumas cenas mostra-se o descaso de alguns professores com a figura do aluno, muitas outras mostram professores muito engajados que, no entanto, são massacrados pelas condições estruturais reinantes. Se não se pode negar a má qualificação docente e o fato de que todos nós deveríamos saber sempre mais de alguma coisa, o filme mostra que o problema está na falta de suporte geral para os docentes e para o ambiente em que trabalham, a começar pela formação. O professor precário de hoje é o fruto da criação planejada de uma educação solapada, muito útil aos donos de escolas particulares, que precisa lidar com uma realidade social complexa, tendo que atender simultaneamente alunos de alto potencial e jovens desinteressados e indisciplinados, sem auxílio das famílias ou uma rede de proteção.
pro-dia6
Alunas do Colégio Santa Cruz
Mais mérito: o filme consegue mostrar que o desinteresse dos alunos, a sabotagem educacional, não está presente somente nos colégios destinados aos populares. No colégio Santa Cruz, de São Paulo, cuja mensalidade beira os R$ 1.600 reais, encontram-se também pichações, agressões, mal-estar com a escola, alunos sonolentos, desinteressados, repetentes e que pouco valor dão aos estudos, mais interessados nas conversas e nos beijos, amizades e namoros. Por este norte, mostra-se que se a escola existe como uma coisa pensada por seus gestores e professores antes de os alunos a adentrarem; estes, por sua vez, procuram adequá-la aos seus interesses uma vez que nela se inserem. Num mesmo prédio, temos a escola tal como a fazem e pensam os gestores e professores e outra escola tal qual a fazem e pensam os alunos. O que é uma característica de toda organização: o poder de fato é sempre uma média entre o que pretendem os administradores e o que permitem e desejam os administrados, seja na escola, hospital ou penitenciária.
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A talentosa Valéria, de Pernambuco
Embora se encontre quem veja o filme e procure justificar o fracasso das más escolas públicas pelo desinteresse e indisciplina dos alunos, transformando em culpados as verdadeiras vítimas, as imagens não deixam dúvidas quanto aos problemas estruturais da educação pública centrados em gestão, qualificação e financiamento. Péssima estrutura, professores mal qualificados, péssimos gestores, carentes de qualificação mínima, nenhuma ou pouca assistência ao aluno. Enfim, uma escola condizente com a formação de um exército de trabalhadores precarizados onde os índices de segurança pública e fatores disciplinares acabam pesando mais na formação de uma juventude que possui pela frente um mercado de trabalho rústico. Claramente, o maior interesse dos alunos mostrado no colégio de elite é condizente com o futuro que os espera. Enquanto os primeiros estão numa escola que significa uma verdadeira condenação social, com horizontes de trabalho pesado e mal remunerado, os últimos têm, a cada dia, confirmada a sua destinação para cargos de chefia ou trabalhos bem remunerados e bem vistos socialmente. No final do filme, informações mostram que a aluna da escola pública abandona a poesia e os escritos, terminando como dobradora de roupas, enquanto a aluna do Santa Cruz figura como ingressante em engenharia na USP.
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Alunos de Duque de Caxias-RJ
O menino de Duque de Caxias, repetente e indisciplinado, paradoxalmente termina no exército. A sonhadora de Pernambuco faz curso normal para tornar-se professora; outra, de São Paulo, fugida da escola por ameaças de agressão, já com filho, sonha em assumir o giz e o quadro negro. Depoimentos fortes mostram uma jovem narrando como assassinou a facadas uma colega no colégio, e outros rapazes contam suas desventuras no mundo do crime, agredindo e assaltando. Mas o horror maior não está somente nos depoimentos daqueles que ficaram inseridos em locais onde a degradação social instalou uma cultura de morte e desvalorização da pessoa humana. No depoimento da jovem do Santa Cruz, a mesma que figura como ingressante em engenharia na USP, vemos a aluna tentar aludir uma preocupação com os pobres para, em seguida, dizer que não pode se mobilizar em prol de uma melhoria social porque isso implicaria abandonar sua rotina que inclui natação, clube, yoga etc. Explicita que tem sorte por ter nascido na elite e precisa cuidar de seus interesses, como se o seu bem-estar não estivesse umbilicalmente ligado à miserabilidade de tantos outros.
Um grave problema do filme é seu esforço em não culpabilizar os dirigentes pelas condições da escola pública. Embora mostre alguns números, como a quantidade de colégios sem banheiros no país (13,7 mil), sem água (1,9 mil), alto índice de abandono até a 8ª série (41%), e o fato de metade dos alunos do fundamental não saberem escrever corretamente, a abordagem oculta culpados. Faltam dados sobre política educacional, sobre financiamento, sobre currículo, sobre história da educação brasileira, que permitam o adequado entendimento de como é que se criou tamanha barbárie. Dessa forma, o filme alimenta o cinismo de sempre: se sabem os problemas educacionais mas nunca se sabem os responsáveis pelos mesmos. Mais do que qualquer área, em educação só se encontram vencedores. Ninguém se apresenta como o diretor ou antigo secretário do aluno condenado por sua miséria educacional. Quem conhece a coisa por dentro, certamente fica em dúvida se a educação pública, em média, perde para trabalhos como o de policial e carcereiro no aprendizado paulatino de um cinismo organizacional. É um cinismo como método.
Outro grave problema é a forma como o filme alimenta o mito da boa escola particular. Embora foque uma escola em melhor estado ao lado de escolas públicas péssimas, ao compará-las somente com uma escola privada de elite alimenta-se o discurso estelionatário do empresariado da educação. Primeiro, não se consegue entender a má formação docente sem se pensar na forma como empresas de educação extraem dinheiro das pessoas ofertando-lhes um péssimo produto, sem que sejam importunadas pelas autoridades responsáveis em fiscalizar a área. Explicando: empresas financiadoras de políticos e políticos donos de empresas de educação. Eis que a grande maioria dos colégios privados também é de má qualidade e somente uma situação de barbárie nas escolas públicas é que dá a eles alguma vantagem na área. Por outro lado, no seio de grandes redes públicas de educação, existem experiências bem sucedidas, colégios de melhor qualidade que muitos dos particulares das redondezas. Entretanto, além de minoritários, tais colégios possuem mecanismos informais de seleção de ingressantes para excluir os mais precarizados, e acabam sendo preenchidos com filhos de professores, pequenos comerciantes, policiais etc. Quem quiser saber qual é o melhor colégio público de uma dada cidade basta averiguar onde são matriculados os filhos de professores que estudam na escola pública.
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Filmando a escola
Talvez não se possa culpabilizar o diretor por tais lacunas, mas quem vê o filme não pode esquecer as grandes ausências. Aliás, são tais ausências que dão um sentido fatalista para o mesmo. Além de não retratar as boas escolas públicas, tanto de sistemas estaduais quanto do sistema federal, nada se fala/mostra de iniciativas gloriosas da chamada sociedade civil. Existem bons trabalhos não citados de ONGs, movimentos e cursinhos populares, que é o campo onde se afirmam mais acentuadamente alternativas ao quadro majoritário. A rede de cursinhos populares que se disseminou no país desde os anos 1990, focados em iniciativa do estudante, eliminação de burocracias, otimismo, preocupação com a condição do aluno, cidadania ativa e trabalho voluntário ou semi-voluntário, merecia por si só um documentário. Se se podem usar antigas palavras para novas realidades, os cursinhos populares que foram pipocando pelas periferias brasileiras constituem o que há de mais próximo na atualidade de uma educação popular e/ou libertária. Eis que quem olhar de fora somente o objetivo final de aprovação no vestibular e congêneres pouco terá noção do que realmente se passa no seio de tais empreitadas.
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Alunas em Pernambuco
O caso das ONGs é emblemático. O Brasil vive um momento paradoxal em que cada vez mais se fala em educação, ao passo que tradicionais setores se encontram absolutamente perdidos no assunto. É um quadro em que o empresariado está fortemente ativo quanto ao tema, fundando movimentos como o Todos Pela Educação, ao lado do silêncio criminoso das universidades e derrota retumbante dos sindicatos e professores que, presos no debate salarial, não se prepararam para o novo campo de batalhas inaugurado, que foca no currículo, avaliação e projeto pedagógico. Isso para não citar a ausência de pais e alunos quanto ao tema. Nesse quadro, é por iniciativa de algumas poucas ONGs que, bem ou mal, se tem dado uma resposta aos projetos empresariais e tecnocráticos das secretarias. No geral, está-se tentando criar um consenso de que quem entende de educação é o empresariado e seus tecnocratas auxiliares, e são algumas ONGs que têm sido mais eficazes em combater tal linha.
Para não estender o texto, o filme tem enorme valor mas adquire maior potencialidade se for visto não como um discurso pronto e acabado, mas como um alicerce para outras indagações, novas buscas, saber mais. Ao mostrar um quadro discrepante entre a escola de elite e as escolas públicas, talvez, a partir dele, podemos pensar que a educação é uma coisa que só funciona se for oportunidade para sonhos ou confirmação de superioridade social. A escola de elite funciona melhor porque é um ponto de uma rede de proteção que funciona bem e garante ao aluno um futuro promissor. A escola pública só vai bem se permitir sonhar. Enquanto sinônimo de condenação social, os alunos, perspicazes, não se interessam por ela.