O
pensador alemão Karl Marx (1818-1883) afirmou que a ideologia dominante
será aquela advinda da classe que domina a sociedade, ela representará,
então, as ideias, a forma de pensar e explicar o mundo provenientes
desta mesma classe. Essas afirmações encontramos na obra A Ideologia
Alemã escrita em 1845-1846, “As ideias (...) da classe dominante são, em
cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força
material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual
dominante” (MARX, 1996: 72). E essas ideias possuem a característica de
aparecerem para todos como universais e racionais “(...) cada nova
classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para
alcançar os fins a que se propõe, a apresentar seus interesses como
sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para
expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas
ideias a forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as únicas
racionais, as únicas universalmente válidas” (MARX, 1996: 74).
Para Marx, na sociedade capitalista a produção de objetos é a atividade
essencial, pois é com ela que a divisão em classes e a exploração do
trabalho ocorrem. Essa divisão impulsiona a classe dominante em manter o
controle sobre o conjunto da sociedade. Na análise que Marx realiza
sobre o capitalismo, que encontramos na obra O Capital, de 1867, há uma
crítica à forma como essas relações entre patrões e empregados vão
ocorrendo na sociedade.
Quando compramos alguma coisa não nos importamos em saber em quais
condições de trabalho e com qual salário aquele objeto foi produzido.
Por exemplo, se você está com frio e tem que comprar uma blusa, vai se
preocupar com a utilidade que ela terá para você. Não se preocupará com
as condições de trabalho dos operários da indústria têxtil.
A propaganda irá atuar sobre você e o consumo ocorrerá via esta ação
misteriosa e mágica que revela somente a utilidade do produto.
Isso ocorre com qualquer objeto produzido no capitalismo, pois todos
eles podem ser igualados. Veja: se as horas gastas para produzir a sua
blusa forem igualadas às horas para produzir um CD, eles vão ter o mesmo
preço. É por isto que muitas vezes um CD custa o mesmo que uma lata de
ervilha. Quanto menos tempo leva, dentro da jornada, para produzir um
objeto, mais lucro tem o capitalista, que com uma determinada produção
paga os gastos que tem com o trabalhador. Essa igualdade de horas
trabalhadas vai equiparar as mercadorias e na hora do consumo só vai
importar o preço das coisas. Este é o caráter mágico cheio de “argúcias
teológicas” que Marx está indicando no seu texto que vamos citar a
seguir:
“A primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheio de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. Como valor de uso, nada há de misterioso nela, quer a observemos sob o aspecto que se destina a satisfazer necessidades humanas, com suas propriedades, quer sob o ângulo de que só adquire essas propriedades em conseqüência do trabalho humano. É evidente que o ser humano, por sua atividade, modifica do modo que lhe é útil a forma dos elementos naturais. (...) A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como característica materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho”. (MARX, K., 1994: 82).
Nesta obra, O Capital, Marx, demonstra o Valor de todo e qualquer objeto
que no capitalismo possui a forma de Mercadoria. Estes objetos vão
possuir uma utilidade, que está localizada no consumo, e algo mais que
está localizado na hora que a blusa, no caso do exemplo, for produzida.
Analisar e desvendar o processo produtivo e a organização da sociedade
foi a sua intenção.
Ao consumirmos somos influenciados pela necessidade e utilidade – básica
ou supérflua – que temos de possuir determinado objeto. Em geral, não
nos preocupamos em compreender o que ocorre com a realidade do
trabalhador e seu modo de vida. Assim, o valor de uso, a utilidade
possui uma força ao despertar a nossa atenção para o consumo.
Então a Mercadoria possui um VALOR DE USO que é a utilidade do produto, o
que nos leva a consumi-lo para suprir essa necessidade.
Já o que Marx chamou de VALOR é o processo de fabricação deste objeto
(no caso do exemplo, a blusa), que tem um lugar determinado, na fábrica,
quando durante a jornada de trabalho, ocorre o processo de exploração
do trabalho no capitalismo. Vejamos, no exemplo a seguir:
Quando um(a) trabalhador(a) é contratado por uma determinada jornada de
trabalho de 8 horas diárias, estamos considerando, que dentro desta
jornada, existem três momentos:
- Uma primeira parcela em que com duas horas de atividade em que este trabalhador(a) executou a sua função, ele paga o seu salário.
- Uma outra parcela, de duas horas em que a sua atividade paga os custos da produção – matérias-prima, impostos, transporte do produto, a compra de novas máquinas.
- Uma terceira parcela de quatro horas em que este trabalhador continua produzindo e estes produtos são o lucro ou um valor a mais – MAIS-VALIA – que o proprietário da fábrica vai se apropriar.
Esse processo configura o que Marx chamou de essência da sociedade,
quando ocorre a produção de objetos, pois é neste momento que o
trabalhador vai reproduzindo a sociedade ao aceitar as disposições
legais do seu contrato de trabalho e se submete à jornada nele
estipulada. Em outros momentos também ocorrem determinações sobre os
indivíduos quando vão estabelecendo uma ação de conformidade frente à
“dureza” que é o cotidiano da busca do emprego, de pagar as contas, de
ser atendido pelo médico, de poder ir ao cinema, enfim, resolver as
necessidades materiais – ter acesso à comida, à água potável, a um
abrigo seguro, ao conhecimento, e as necessidades subjetivas -
sentimentos, desejos, questionamentos, aspirações.
E na hora em que vive este cotidiano, ele vai sendo sugado pela
necessidade de garantir que as metas estabelecidas, no emprego sejam
cumpridas: prazos, cotas, produtividade que estão na fábrica, na loja,
no banco, na gráfica, no trabalho do cobrador e do motorista de ônibus.
No campo a realidade não é diferente, há a exigência de melhor
rentabilidade na colheita de tantos alqueires no dia, nas exigências de
colher tantas toneladas de cana no dia, enfim. Prazos são estabelecidos e
para garanti-los nós não pensamos muito, vamos fazendo, executando e
obedecendo, sem questionar.
Fonte: SEED
0 comentários:
Postar um comentário